Ba Duan Jin por Paulo Minoru Minazaki Júnior

Ba Duan Jin por Paulo Minoru Minazaki Júnior

Apresento aqui uma importante técnica de Qi Gong chamada Ba Duan Jin. O Ba Duan Jin, também chamado de “Oito Brocados de Seda”, é uma técnica criada pelo General Yueh Fei (1103–1142) durante o período da Dinastia Song (960 a 1276), com a intenção de manter a saúde e reforçar o físico de seus soldados, que lutavam contra o Japão. Há indícios de que o Ba Duan Jin descenda do Yi Jin Jing, criado pelo monge Da Mo.

General Yueh Fei

A história que se segue foi retirada de um site, e eu adoraria dar os créditos, entretanto, quando peguei esse material para completar as apostilas de meus cursos, há alguns anos, acabei não anotando a fonte.

O General Yueh Fei foi um dos generais mais reconhecidos da dinastia Song, grande patriota e artista marcial; cumpriu um grande papel na história Marcial da China. Treinado no Templo Shaolin sob a tutela do Sacerdote Jao Tung.Crê-se que foi o criador do estilo Xingyi. Era perito na utilização de lança e implementou um sistema para o exercito que comandava, denominado “Xin Yi Liu He Quan”.

Yueh Fei nasceu no dia 15 de fevereiro de 1103. Tan Yin Hsien, na província de Henan, na China. Seu pai faleceu quando ele tinha apenas um mês de vida, devido a uma inundação do rio Yang Tse. Yeuh e sua mãe escaparam dentro de uma urna. Sua educação veio através de sua mãe, assim como o senso de liderança e coragem. Apesar das condições precárias, era estudioso, e tornou-se o jovem mais educado da aldeia. Quando jovem, era agricultor arrendatário.

Um dia conheceu um grande artista marcial de nome Jou Ton, que aprendera sua arte dentro do Templo Shaolin. Yueh Fei passou muitos anos sendo treinado por Jou Ton.

No ano de 1122, havendo completado já os 19 anos, o jovem Yueh Fei, vendo o sofrimento de seu povo, decidiu, para ajudar a sua pátria, alistar-se no exército dos Song, para assim poder expulsar os Gin (povo nômade que invadiu o norte da China), que tantos danos causavam a população. Muito pronto Yueh Fei destacou como um soldado excepcional, e graças a seus dotes como guerreiro e como líder, conseguiu rapidamente ir escalando os escalões até obter o grau de General de campo em um período pouco comum de seis anos. Uma vez que Yueh Fei fosse nomeado a frente de um exército, criou um sistema de treinamento que converteu seus homens em um grupo invencível graças as suas habilidades e disciplina. Dessa maneira, Yueh Fei introduziu o Wu Shu como currículo básico para o treinamento dos soldados antes de ir ao campo de batalha. As tropas de Yueh Fei eram conhecidas como Tropas da família Yueh Fei. Suas tropas possuíam três princípios que o levaram ao sucesso: treinava as tropas de forma rigorosa, séria e profissional; a organização militar que comandava era gerida de maneira organizada e eficiente; e ensinou aos comandados o que aprendeu com Jou Ton.

Para treinar melhor a tropa, Yueh Fei introduziu a formação dos soldados os novos sistemas de combate, como o Hsing I Chuen e a Garra de Águia. O primeiro deles é um estilo interno. A tudo isto, o grande estrategista adicionou uma série de exercícios destinados a manter a saúde de sua tropa, o Ba Duan Jin.

O General Yueh Fei foi traído por Qin Hui, ministro da corte Song e sentenciado a morte, já que se havia chegado a um estado de paz com os adversários e o (Gral). De alto renome e integridade comprometia não só o acordo de paz como também ameaçava o regime. Desta forma o ministro acusou falsamente o General Yueh Fei de insubordinado e convenceu o Imperador sobre a traição do Grande General. Apesar de muitas buscas, nada encontraram contra Yueh Fei, que por esse motivo teve seus alimentos envenenados na prisão e veio a falecer em 27 de janeiro de 1142, com apenas 38 anos. Em 1166 um novo imperador assumiu o poder e ao descobrir os acontecimentos com Yueh Fei, limpou seu nome, mandou exumar o corpo e o enterrou com honras próprias às sua posição hierárquica e em pé. Seu novo enterro aconteceu em West Lake, em Hang Zhou. Em frente a seu túmulo estão duas estátuas de pedra. Chin Kua e sua esposa ajoelhada, demonstrando arrependimento e vergonha perante Yueh Fei.

A Prática

O Ba Duan Jin é uma técnica que possui oito movimentos. Não vi muita variação a respeito das funções dos movimentos, entretanto posso afirmar que existem muitas variáveis desta técnica. Tive a possibilidade de conhecer algumas delas. A primeira variação que aprendi foi a de Yves de Requena, e esta foi a versão que mais pratiquei e grande parte dos resultados que obtive com o Ba Duan Jin clinicamente, vieram desta versão. Em 2005 aprendi uma versão que considero mais fácil de ser executada, por não possuir movimentos na Postura do Cavalo, e a utilizei mais com idosos e pacientes sem tanta condição física. Esta versão foi ensinada pelo Mestre Lam Kam Chuen, em sua visita à convite do Ebramec, na época conhecido como Ciefato. Dois anos depois, um colega chamado Paulo Wu me ensinou mais uma variação. Esta variação parecia uma mistura das duas anteriores, mas em especial um movimento me conquistou: o Movimento Mirar a Águia ao Longe. Nessa variação, este movimento era semelhante ao do Mestre Lam Kam Chuen, mas com mais detalhes e uma explicação muito interessante sobre o movimento. Primeiro você pega o arco, depois você faz a mira, depois lança a flecha e por fim guarda o arco. Essa simbologia deu um “up” vida ao movimento. Em 2011 conheci um professor de Salvador, trazido para São Paulo por Cassiano M. Takayassu, da escola Hua Tuo, que ministrou um curso de Formação de Qi Gong, no Ebramec, formando duas turmas. E com o Mestre Gutembergue Livramento aprendi mais duas versões. O sistema de sua escola possui oito versões do Ba Duan Jin, de menos marcial para mais marcial, se é que podemos denominar assim. Aprendemos com ele as versões II e IV. A versão II apresenta algumas variações, mas muitos dos movimentos são semelhantes às versões que já conhecia. Entretanto a versão IV me encantou, pela plasticidade e por ser o contato mais marcial que tive dentro do Qi Gong. A força dos movimentos desta variação é impressionante. E seria necessário praticá-la para poder compreender.

O primeiro movimento chama-se Sustentar o Céu com as Mãos, e atua no Triplo Aquecedor (San Jiao), e regulando os órgãos internos; alivia a fadiga e melhora a inalação, revigora os ossos e músculos das costas e cintura. Pode ser utilizado para melhorar a má postura, principalmente no que se refere à cifose torácica, pois o movimento auxilia no alongamento dos peitorais e fortalecimento dos músculos dorsais superiores.Howard Reid sugere que a execução deste movimento somado aos movimentos Mirar a Águia ao Longe e Agitando o Corpo, podem auxiliar na Síndrome Pré-Menstrual, incluindo períodos dolorosos, pois o “fluxo de Qi é reforçado permitindo o ajuste de mudanças hormonais e físicas internas.” (REID, 1988 e CHUEN, 2000, MINAZAKI et ali, 2005)

O segundo movimento chama-se Mirar a Águia ao Longe, e atua na caixa torácica, melhorando o funcionamento do Coração e Pulmão, e assim, melhorando a circulação de sangue e oxigênio; atua nos canais Shou Tai Yin Fei Jing (P), Shou Yang Ming Da Chang Jing (IG) e Shou Tai Yang Xiao Chang Jing (ID); é um importante recurso a ser utilizado no tratamento e prevenção de cervicalgias e cervicobraquialgias; combate à fadiga; combate à falta de resistência para as infecções; bronquites; rinites. (MINAZAKI et ali, 2005; CHUEN, 2000; REQUENA, 1996)

O terceiro movimento chama-se Separar o Céu e a Terra, e regula o Qì do canal Zu Yang Ming Wei Jing (E) e Zu Tai Yin Pi Jing (BA); regula a digestão; regula a circulação sanguínea; tonifica os mm. lisos dos órgãos, mm. abdominais e esfíncter; conserva o sangue nos vasos; gastrite; constipação; hemorragias; hemorróidas; soluço. (MINAZAKI et ali, 2005; CHUEN, 2000; REQUENA, 1996)

O quarto movimento chama-se Torcer a Coluna (na prática do Requena é o quinto movimento) atua nas dores na coluna; hérnia de disco; artrose na coluna; aprimora a flexibilidade da coluna; massageia internamente os órgãos e vísceras, fortalecendo-os; acalma o Shen (espírito). (MINAZAKI et ali, 2005; CHUEN, 2000; REQUENA, 1996)

O quinto movimento chama-se Tirar o Fogo do Coração (na prática do Requena é o quarto) e atua estimular a circulação dos líquidos orgânicos (Jing Ye); melhorar a circulação de energia dos canais Shou Shao Yang San Jiao Jing (TA) e Zu Shao Yang Dan J?ng (VB), expulsando com isto o Fogo do Coração (agitação, tensão, precipitação, distúrbios emocionais, choques afetivos); Diminui o Yang; alimenta o Yin; aquieta o corpo e a mente; ciatalgias. (MINAZAKI et ali, 2005; CHUEN, 2000; REQUENA, 1996)

O sexto movimento chama-se Segurar a Ponta dos Pés e alonga os músculos da cintura e da região lombar; fortalece os vasos maravilhosos Dai Mai e Du Mai; fortalece os Rins por massagear e melhorar a circulação de sua energia; melhora a função renal e supra-renal; o Jing Qi sobe nutrindo o Cérebro e a Medula; regenera o eixo cérebro-espinhal; favorece a regulação do sistema nervoso; melhora o tônus cerebral; aumenta a vigilância; aumenta a memória e a concentração; melhora a qualidade do sono; melhora lombalgias; impotência; miomas uterinos; cistos ovarianos. (MINAZAKI et ali, 2005; CHUEN, 2000; REQUENA, 1996)

O sétimo movimento chama-se Olhar com Raiva e reforça os músculos; estimula o córtex cerebral; estimula o sistema nervoso vegetativo; elimina a raiva contida no Fígado, deixando a pessoa
mais equilibrada; regula toda a energia trabalhada nos exercícios anteriores; reforça a energia dos músculos; elimina a tensão, o estresse; combate à insônia. (MINAZAKI et ali, 2005; CHUEN, 2000; REQUENA, 1996)

O oitavo movimento chama-se Ficar na Ponta dos Pés (Mestre Lam Kam Chuen o chama de Agitando o Corpo) e fortalece o corpo inteiro; regula os doze canais de energia; promove equilíbrio; regula os canais de energia Yang; acalma o Yang. O chinês diz que este exercício cura as “100 doenças”. (MINAZAKI et ali, 2005; CHUEN, 2000; REQUENA, 1996)

A prática do Qi Gong, independente da técnica deve seguir um roteiro de quatro fases. Desbloqueio Articular para permitir o livre fluxo do Qi; Captação de Energia para captar o Kong Qi (Qi do ar); Mobilização Energética (técnicas em si) para mobilizar o Qi captado e Armazenamento, que é o fechamento, é o momento onde se guarda o Qi trabalhado. Mestre Gutembergue Livramento cita que é a parte mais importante da prática. Passar por todas as fases é fundamental para o bom desempenho com a prática de Qi Gong.

 

Artigo escrito pelo professor e coordenador de Qi Gong na EBRAMEC: Paulo Minoru Minazaki Júnior

Artigo publicado na Revista Medicina Chinesa ed. 10