Curiosidades da China: Biologia e Agrícola - FACULDADE EBRAMEC

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Curiosidades da China: Biologia e Agrícola

Especial Dia do Biológo

Curiosidades da China: Biologia e Agrícola

biologia

Muita pesquisa ainda precisa ser feita sobre as ciências biológicas na China, mas, felizmente, já se dispõe de bastante informação para que se possa apreciar alguma coisa do que os chineses conseguiram. Eles tinham, naturalmente, uma variedade muito grande de animais em seu vasto território, inclusive espécies raras como o panda e a salamandra gigante, e também o gibão. Desde cedo eles já sabiam da importância de uma criação seletiva; assim criaram o búfalo, que era usado para arar os campos macios, e, para uma classe social mais elevada, o cão pequinês e uma grande variedade de peixes dourados. Os chineses se interessavam por cavalos; criaram o pônei mongol, e o imperador Wu Ti persistiu em sua conquista de Fergana (atual região do Uzbequistão, na URSS) a fim de capturar alguns cavalos “suor-de-sangue”. Eram excelentes cavalos, possivelmente antepassados dos famosos cavalos árabes, mas eram infectados por um parasita que causava hemorragia na pele; o imperador os queria mais por motivas místicos do que para equipar sua cavalaria.
Os chineses escreveram muito sobre animais, e há muitas descrições sobre eles, especialmente nas diversas enciclopédias que foram compiladas do século IV a.C. em diante, e também num tipo especial de literatura que pode ser mais adequadamente chamada de histórias naturais farmacêuticas. Estas começaram dois séculos mais tarde e descreveram o crescente conhecimento dos chineses sobre o mundo natural. Havia também pequenos panfletos sobre animais específicos e, naturalmente, essas criaturas particularmente associadas aos chineses, o bicho-da-seda. Estes foram criados da época Shang (cerca de 1500 a.C.) em diante, embora não tenha sido senão um pouco mais tarde, na dinastia Zhou, que se iniciou um programa de criação bem-organizado, o qual se manteve como monopólio chinês até meados do século VI d.C., quando seus segredos foram roubados da China e introduzidos na Europa. Entretanto, o bicho-da-seda não foi o único inseto domesticado pelos chineses. Em Sichuan, criaram-se insetos escamados que viviam em freixos, pois esses insetos são cobertos de escamas cerosas brancas, enquanto a fêmea também segrega cera. Essa cera era usada na medicina, bem como na fabricação de velas. Outros insetos escamados, como a cochonilha, eram criados por causa do material corante que produziam, de utilidade na tinturaria.
Na verdade, os chineses parecem ter tido especial predileção pelos insetos. Criavam grilos por esporte, mantendo-os em gaiolas e soltando-os para lutar, de modo muito semelhante à briga de galos. E, naturalmente, também criavam abelhas, embora o mel obtido fosse usado principalmente para finalidades médicas. Mas indubitavelmente, o uso mais extraordinário dos insetos tinha como finalidade proteger as plantações da devastação por outras pragas. Um livro escrito no século III d.C., descreve como, no sul, os produtores de cítricos penduravam sacolas de formigas em suas árvores como proteção contra aranhas, acarinos e outras pragas. Esse é o primeiro exemplo conhecido de proteção biológica de plantas, e não há dúvida sobre suma eficácia; a espécie de formiga foi agora identificada e a prática continua até hoje.
O estudo das plantas pelos chineses foi pelo menos tão extenso quanto o seu trabalho com os animais, e teve continuidade. No mundo ocidental, houve pouco desenvolvimento depois dos gregos, até a época da Renascença, mas na China não ocorreu tal hiato. E, além disso, os chineses tiveram a vantagem de possuir uma variedade de plantas imensamente mais rica do que aquela de que dispunham os botânicos ocidentais – das florestas de coníferas no norte, às florestas decíduas e regiões florestais bem ao sul, assim como áreas desérticas e cobertas de arbustos. E, se isso não fosse suficiente, os botânicos chineses eram estimulados em seus estudos pelo governo, pois os burocratas tinham mais que um interesse passageiro no uso da terra e precisavam conhecer as diferentes espécies de plantas e árvores e os ambientes em que elas melhor floresciam. Por outro lado, essa política encorajou os chineses a fazer um estudo cuidadoso dos solos, o que não teve paralelo entre as civilizações mediterrâneas. Tal estudo começou cedo na China, pois condições de solo eram descritas por volta do século IV a.C, e há indicações de que uma primitiva ciência do solo já existia trezentos anos antes.
Por toda a sua história, os chineses tiveram que enfrentar os problemas resultantes de uma população grande e em contínuo crescimento. Isso afetou sua agricultura, bem como a botânica, pois encorajou plantios de produtos agrícolas em regiões diferentes de seu habitat normal, e até mesmo a criação de famílias de plantas que seriam um sucesso em condições diferentes. Muito trabalho útil foi realizado nesse campo do século X ao século XIV d.C. Outro estudo, provocado pelo perigo sempre presente da fome em algumas regiões, foi o que é conhecido, muitas vezes, como o “movimento alimentício”. Cobrindo o período que vai do século XIV ao século XVII, esse movimento estudou a ação a ser desenvolvida sob condições de fome. Enfrentou o problema relacionando e descrevendo em detalhes todas as plantas selvagens que podiam ser utilizadas como alimento e foi, num sentido muito real, um precursor de todas as tentativas que hoje são feitas para ampliar as fontes naturais dos suprimentos de alimento para a humanidade.
Os documentos desse movimento faziam parte de uma literatura botânica de maior amplitude que os chineses produziram. O material botânico aparecia em suas enciclopédias e nas histórias naturais farmacêuticas já mencionadas, mas havia também, como no caso da zoologia, uma série de trabalhos específicos sobre determinadas plantas, excedendo de muito os trabalhos a respeito de vários animais. Naturalmente isso deveu-se, em parte, à grande necessidade de detalhes sobre plantas que podiam ser usadas na medicina. Quando as palavras impressas se tornaram disponíveis na China, a partir do século IX, os textos se multiplicaram e, trezentos anos depois -quando amadureceu a arte de preparar blocos de madeira para ilustrações – passaram a conter ilustrações cuidadosas e precisas das espécies de plantas.
A botânica científica precisa de um sistema de classificação das plantas, como veremos ao examinar o trabalho de Lineu na Europa do século XVIII, mas alguns passos importantes, ao longo desse trajeto, foram dados na China muito antes disso. A língua chinesa, por si mesma, foi grandemente responsável por isso: nos tempos primitivos, os símbolos pictóricos prestaram-se para representar objetos como troncos, galhos e caules, assim como várias espécies de folhas e até de frutos, e, quando esses símbolos se transformaram nos ideogramas do chinês escrito, tal facilidade não se perdeu. Novos sinais foram inventados quando necessário, e os chineses nunca tiveram de recorrer a outra língua, como os botânicos ocidentais precisaram fazer mais tarde: de fato, eles não possuíam uma língua “morta” de que se pudessem valer. Tudo isso significa que os nomes botânicos apareceram naturalmente; havia, é claro, nomes vulgares, mas, desde o século III a.C., os chineses já classificavam as plantas com nomes científicos de duas palavras. Isso os auxiliou em sua habilidade de classificar e reconhecer famílias naturais de plantas de modo não muita diferente do que era usado no Ocidente.
O maior de todos os autores botânicos chineses, Li Shi-Zhen (Li Shih-Chen), nasceu em 1518 e trabalhou durante a dinastia Ming. Homem letrado e de sábios pontos de vista, em 1583, aos setenta anos, deu os retoques finais em uma enorme história natural farmacêutica (a Grande farmacopéia), na qual apresentou todos os fatos que conhecia, acompanhados por uma cuidadosa avaliação crítica; ele deu seu nome científico preferido a cada uma das plantas mencionadas, seguido por uma lista de outros nomes, e nisso realmente se antecipou à nomenclatura moderna.
Os chineses eram também grandes cultivadores de flores de jardim, e muitas das que hoje enfeitam os jardins ocidentais se devem à China, como a rosa, o crisântemo e a peônia. Para os chineses, o jardim era um lugar de quietude e contemplação, e era planejado e cultivado levando-se isso em consideração. Entretanto, foi por suas técnicas de jardinagem que os chineses foram muitas vezes criticados, ao menos no que diz respeito à agricultura; mas, se os métodos que usavam para produção de alimentos em larga escala pareciam mais apropriados para a jardinagem do que para a lavoura, isso lhes deu certas vantagens no que se refere ao cultivo intensivo. Pois a necessidade que tinham de produzir grandes quantidades de alimentos levou-os a empregar métodos que, do período Han em diante, produziram um rendimento por área muito superior a qualquer cifra conhecida no Ocidente. Isso era, em parte, devido ao fato de a plantação ser feita de tal forma que se podia alcançar cada planta e lhe dar atenção individual, enquanto no sul da China, durante o fim do período Han, a semente era plantada em sementeiras, seguindo-se o transplante no tempo devido. Fazia-se, naturalmente, grande uso da irrigação, e em torno dos tanques de irrigação para o arroz, cultivavam-se plantas macias, como castanheiros aquáticos, feijões e pepinos, e se criavam patos. Além disso, plantavam amoreiras para a cultura do bicho-da-seda e, à sua sombra, os búfalos pastavam ruidosamente, nivelando o chão e tornando-o firme com suas passadas. Nada se perdia.
Os chineses também praticavam a rotação de culturas. Diferentemente dos romanos, que deixavam o chão descansar a anos alternados, os chineses, depois do período Han, só utilizavam esse método como último recurso. Os excrementos humanos, assim como os de animais, serviam como fertilizantes, enquanto se usava também a lama dragada do Yang-tsé. Com o crescimento da população, a demanda por terras se tornou mais intensa, e do século IX ao século XIII d.C., utilizou-se a técnica de terraços, e os lagos foram drenados e circundados por muralhas de terra – técnica usada mais tarde na Europa, com grande sucesso, pelos holandeses — ao mesmo tempo em que se usavam balsas de bambu cobertas com plantas aquáticas e terra como meio adicional de aumentar a área de cultivo. Apesar de tudo isso, os chineses não eram avessos à importação de novas culturas de países vizinhos; o trigo e a cevada foram antigas importações da Ásia Ocidental; do século VI ao século VIII d.C., havia algodão da Índia, e variedades especiais de arroz, importadas do antigo reino de Champa, no século XI, produziram duas colheitas e, com criação seletiva, uma variedade que amadurecia em sessenta dias ou menos. Como implementos auxiliares, os chineses desenvolveram máquinas agrícolas bem-desenhadas que, por causa de seus métodos de jardinagem, podiam ser construídas com a tecnologia simples de que dispunham. Como as técnicas de lavoura européias exigiam máquinas muito mais pesadas, foi necessária uma revolução industrial antes que as máquinas agrícolas se tornassem realmente úteis no Ocidente.

in Ronan, C. História Ilustrada da Ciência pela Cambridge University. Rio de Janeiro: Zahar, 1986

 

Fonte: Blog China Imperial

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